quarta-feira, 29 de julho de 2015

SABERES NECESSÁRIOS À DOCÊNCIA ON LINE.





Rosevânia Correia Nunes1; Rubens Gabriel Caires Campos2;
Sérgio Renard da Siva Reis3.

¹Discente do curso latu sensu em Educação à Distância - IFNM; 2Discente do curso latu sensu em Educação à Distância - IFNM; 3Discente do curso latu sensu em Educação à Distância – IFNM.


Resumo: É fato, que as tecnologias digitais invadiram todos os setores da vida das pessoas, associado ás políticas sociais que a favoreceram, a educação a distância experimentou um acentuado crescimento nos últimos anos. O presente trabalho tem por objetivo analisar os desafios do docente que atua na modalidade a distância – EAD, especificamente refletir sobre os saberes necessários para uma atuação eficaz, assim como avaliar esses saberes na voz dos atores pesquisados. Considerando docência online alicerçada sob três pilares: didático, pedagógico e tecnológico, avaliou-se os saberes necessários a prática docente na educação a distância na dimensão, conceitual - saber teórico, procedimental - saber fazer e atitudinal - saber ser, posto que a polidocência é a base da EAD e que todos os atores envolvidos devem relaciona-se de forma dinâmica, para que a construção do conhecimento e dos processos reflexivos, possam ser refletidos na formação do estudante.

Palavras-chave: Ensino a distância, didática, docência tutorial.

Introdução

Nas últimas décadas as evoluções tecnológicas, em especial a internet, tem gerado grandes transformações para o processo educacional. Nos apropriar de tais recursos tem se tornado essencial na construção de um modelo educativo que preze a qualidade. É imprescindível delinearmos quais os saberes necessários para eficácia de sua atuação neste contexto, posto que as evoluções tecnológicas vieram para ficar. De forma irreversível a Internet transformou a vida do homem contemporâneo, tecendo suas vidas (CASTELLS, 2003). O professor, então, deverá ser capaz de ampliar a “gama de situações e procedimentos de aprendizagem, levando em conta a diversidade dos aprendizes” (PERRENOUD, 2001b, p.9-10).
Refletir sobre a natureza do saber docente e da sua incorporação na prática pedagógica requer a compreensão da dimensão social dos saberes, superando-se uma visão meramente “mentalista” que reduz o saber a processos mentais, cujo suporte é somente a atividade cognitiva do indivíduo. Além do cognitivismo, a tendência comportamentalista tem sido bastante criticada por centrar seu enfoque no processo-produto, acreditando que a eficácia do ensino está pautada no comportamento dos professores eficientes, gerando impactos sobre o produto, a aprendizagem dos alunos (GAUTHIER, 1998).
Nessa perspectiva, o conhecimento é algo externo ao professor, sendo que a subjetividade e as interações em sala de aula são ignoradas. Contra essa lógica, Tardif (2002) propõe uma abordagem social sobre o saber docente, sem contudo, descartar a dimensão individual dos espaços cotidianos, ao compreender o que os professores pensam, fazem e dizem. Para a garantia de um trabalho docente com eficácia na tutoria é imprescindível que o professor tutor esteja sempre em processo de aprendizagem. A aprendizagem em relação aos saberes necessários à docência online, consiste na presença das dimensões didáticas, pedagógicas e tecnológicas que se interligam numa compreensão interdisciplinar.
       
Docência virtual e presencial: diferenças e semelhanças

Para análise e conhecimento dos saberes necessários à docência on line, devemos compreender as diferenças e semelhanças entre docência presencial e docência virtual. É possível observar que as duas modalidades de educação estão se aproximando de um modelo híbrido, tese citada por Luiz Antônio da Rocha Andrade; Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira (2012) e defendida por Tori (2010) e Luzzi (2007) . Mas, embora haja muitas semelhanças, não é possível planejar e desenvolver uma aula virtual da mesma maneira que uma aula presencial.
Na modalidade presencial “normalmente, os docentes estão acostumados a trabalhar de modo autônomo/individual/solitário, em que apenas um educador é responsável pelo conjunto de atividades do processo de ensino-aprendizagem. Em contraposição na polidocência, típica da EaD, o docente se vê envolvido com uma equipe que deve trabalhar de forma integrada e harmônica para o sucesso da disciplina. Nessa condição coletiva da docência na EaD não há muito espaço para o improviso, para o inusitado, pois a interação mediada por tecnologias necessita de um mínimo de certeza para que os interlocutores possam se comunicar” (Denise Abreu-e-Lima e Daniel Mill, 2013). Nesse caso a docência prevê a participação de diferentes profissionais da educação, sendo portanto, partilhada e cada figura pode desempenhar com maior eficiência o seu papel, de forma mais colaborativa ou ainda mais fragmentada (específica).
O exercício da docência na EaD abarca as mesmas discussões da docência presencial, mas agrega novos elementos, novas dificuldades e novos desafios – o que exige novas reflexões e novas iniciativas dos docentes e gestores no planejamento e oferta de cursos pela EaD (Mill; Pimentel, 2010). Enquanto o docente da modalidade presencial deve possui conhecimentos específicos da disciplina; os saberes didático-pedagógicos do exercício docente, tanto para organizar os conhecimentos da disciplina nos materiais didáticos quanto para acompanhar os estudantes; e os saberes técnicos, para manuseio dos artefatos e tecnologias processuais, para promover a aprendizagem de conhecimentos dos estudantes. O docente da EAD deve ter além dos saberes inerentes ao docente presencial, outros saberes como: capacidade de estabelecer e manter orientações para o processo de aprendizagem mesmo a distância. Dominar as TICs, dialogar com profissionais de outras áreas, adaptar materiais didáticos a linguagem multimidiática.

A docência em Ead

É consenso que os diferentes tipos de docência são importantes para a organização e desenvolvimento da EaD, uma vez que podem apresentar extrema importância nas possíveis variações nas relações entre docentes da EaD. Como destaca Mill (2006), não podemos esquecer que a polidocência é a base da EAD e que todos os atores envolvidos devem relaciona-se de forma dinâmica. Os papeis do docente em EAD muitas vezes se misturam, de acordo com os diversos modelos de estruturação de cursos. Em geral temos, a docência tutorial que se caracteriza pelo acompanhamento dos alunos nos estudos destes, a docência-formação que  se caracteriza pela oferta da disciplina, enquanto a docência-autoria se caracteriza pela preparação do material didático em algumas mídias (impressa, audiovisual, virtual, etc.).
Ao usar um conjunto de estratégias pedagógicas preestabelecidas ( pelo docente formador) para uma aprendizagem enriquecedora, o tutor da ead pode ser entendido como aquele que apoia a construção do conhecimento e dos processos reflexivos de estudantes.
Compreendemos que o docente tutor e o docente formador têm papel definido, embora suas ações devem se interagir, existindo entre eles uma perfeita sintonia em busca do sucesso.
Docência tutorial

O tutor desempenha um papel chave no processo de ensino-aprendizagem na EaD, segundo Maggio (2001) e Mill (2006), e sinaliza o despontar de novos saberes docentes, novos comportamentos de aprendizagem e novas racionalidades (Kenski, 1998).  Maggio (2001) foi bastante feliz quando afirmou que “o bom tutor é o bom docente…” pois, as ações do docente na educação presencial, servirá de subsídio a suas ações no exercício da tutoria.
A tutoria constitui um dos termos mais controversos da modalidade de educação a distância (EaD), tanto na sua terminologia (concepções diversificadas) quanto nas suas funções e competências (variadas e até contraditórias). Isso pode ser observado na literatura, em investigações científicas e práticas cotidianas da tutoria (Mills 2006).
Na ead, a ideia de guia prevalece nas definições de tutor, sendo aquele que organiza e facilita a participação dos estudantes, usando um conjunto de estratégias pedagógicas preestabelecidas para uma aprendizagem enriquecedora. o tutor da ead pode ser entendido como aquele que apoia a construção do conhecimento e dos processos reflexivos de estudantes. 

Saberes conceituais

O conceito é considerado um instrumento do conhecimento, quanto a dimensão conceitual que engloba o saber teórico, Coll et all (1998, p.23), evocam “que a aquisição de conceitos baseia-se na aprendizagem significativa, que requer uma atitude ou orientação mais ativa com respeito à própria aprendizagem, [...], deve ter mais autonomia na definição de seus objetivos, suas atividades e seus fins”.
Esse saber conceitual permite ao professor tutor ter a visão de “o que ensinar” com domínio de conteúdo que é imprescindível para atuar no ambiente virtual de aprendizagem e nas aulas presenciais, dentro de um processo de aprendizagem colaborativa em que educando e educador interagem na troca de saberes numa condição emancipatória.

Saberes procedimentais

Conforme Coll e et all (1998, p.77) a dimensão procedimental evoca “o conjunto de ações ou decisões que compõem a elaboração ou a participação é o que chamamos de procedimento”. Os procedimentos são representados conforme Coll et all (1998, p.76) pelos “hábitos, técnicas, habilidades,métodos e rotinas” e estão voltados para a consecução da prática docente na atuação tutorial.
Os conteúdos procedimentais são o conjunto de ações ordenadas, que buscam a realização de um objetivo. Na docência on line os procedimentos são reconhecidos no planejamento das ações, no conteúdo a ser dado, quer seja no ambiente virtual ou na aula presencial, na explicação do que vai ser ensinado ao aluno, no caso da leitura e explicação da ementa da disciplina que faz parte da rotina a cada vez que uma disciplina vai iniciar. Na utilização da tecnologia. Nas habilidades em administrar o tempo para dar retorno aos alunos a respeito de seus questionamentos, perguntas e dúvidas no ambiente virtual quando das atividades assíncronas ou síncronas e no cumprimento dos prazos estabelecidos no cronograma da disciplina. É necessário que o tutor tenha o saber tecnológico, para atuar nas mídias digitais e exercer a docência com propriedade. Esse saber tecnológico visa interagir com os alunos, acompanhar as atividades, realizar as avaliações, motivar o acesso frequente, interagir com os conteúdos da disciplina já previamente elaborados e com novos conteúdos e enriquecendo o conhecimento intelectual dos alunos.

Saberes atitudinais

Os saberes atitudinais são apreendidos no momento em que são praticados e abrangem atitudes e posturas inerentes ao papel atribuído ao educador, tais como disciplina, pontualidade, coerência, clareza, justiça e eqüidade, diálogo, respeito às pessoas dos educandos, atenção às suas dificuldades etc. Trata-se de competências que se prendem à identidade e conformam a personalidade do educador, mas que são objeto da formação tanto espontânea, como deliberada e sistemática.
Coll et all (1998, p. 122) cita Krech e Crutchfield que definem a atitude como “uma organização duradoura de processos motivacionais, emocionais, perceptivos e cognitivos em relação a algum aspecto do mundo do indivíduo”. Coll et all (1998, p.132) ainda acrescenta que o “caráter dinâmico” das atitudes está no “contexto da ação”.
            A ação tutorial se move pela motivação na medida em que o professor tutor desenvolve tanto na sala de aula virtual como na aula presencial incentivos, apoio aos alunos a participarem das atividades da disciplina que se inicia, a estudarem o conteúdo da disciplina e finalmente, a continuarem no curso quando no término de mais uma disciplina.

Conclusões

Existe um conjunto de conhecimentos e saberes essenciais à docência virtual, para além dos saberes já tradicionalmente estabelecidos para a docência presencial. Esse conjunto é composto por um grande rol de conhecimentos, que se organizam dependendo da função do docente. A maioria desses saberes está relacionada ao uso intenso das tecnologias digitais de informação e comunicação, ou seja, docência virtual engloba os saberes da docência tradicionais e a implementação de recursos tecnológicos. Em todos os setores, houve uma modificação na atuação dos profissionais após advento da eletrônica e informática. A docência virtual, online, a distância, nada mais é do que esta evolução aplicada à educação, tendo como exemplo didático o ensino híbrido. Temos por hipótese que as adequações que geram o conhecimento, seu contexto de produção e recepção, estão diretamente relacionadas com as necessidades e constrangimentos da prática profissional, o que permite articular essas duas categorias de análise para ampliar o instrumental teórico e poder dar conta do desafio proposto.
Portanto, é necessário que a educação possibilite dinâmicas pedagógicas que não se limitem à simples transmissão ou disponibilização de informações, mas que esteja inserida no contexto da cibercultura, demandando atitudes, modos de pensamento, valores construídos por novas práticas comunicacionais no ciberespaço (e-mails, listas, weblogs, jornalismo online, chats).




Referências

ANDRADE, L; PEREIRA E.; Educação a distância e ensino presencial: convergência de tecnologias e práticas educacionais, 2012. Artigo.

CASTELLS, M. A Galáxia da Internet: reflexões sobre internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
Insira aqui as referências de acordo com o tipo de publicação conforme Norma da ABNT 6023/2002.

COLL. C; POZO. I.J; SARABIA, B; VALLS. E.; Os Conteúdos na Reforma: Ensino e aprendizagem de conceitos,procedimentos e atitudes. Trad. Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: Artes Médicas,1998.

BRITO, S.. Docência online no ensino superior: saberes e formação continuada. 2007. (Mestrado em educação), Unesa – Universidade Estácio de Sá, 2010.

GAUTHIER, C et.al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí: Editora Unijuí, 1998.

LIMA,D.; MILL, D. Reflexões sobre autonomia e limitações nas relações polidocentes na educação a distância. 2013. 46 p. Artigo.

LUZZI, D. A. O papel da educação a distância na mudança do paradigma educativo: da visão dicotômica ao continuum educativo. 2007. 415 p. Tese (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

MAGGIO, M. O tutor na educação a distância. In: LITWIN, E. (org.). Educação a Distância. Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 93-110.

MILL,D; Educação em Perspectiva, Viçosa, v. 4, n. 2, p. 343-369, jul./dez. 2013
Disponível em

MIRANDA, N.; SILVA M.; FILHO N. Elementos formadores na docência do tuor a distância na educação superior semipresencial, 2012. Artigo.

PERRENOUD, P.; ALTET, M.; CHARLIER, É.; PAQUAY, L. Formando professores profissionais. Quais estratégias? Quais competências? Porto Alegre: Artmed, 2001b. Disponível em: http://www.unige.ch/fapse/life/livres/alpha/P/Paquay+alii_2001_A.html>. Acesso em 22 de janeiro de 2015.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.

TORI, R.. Cursos híbridos ou blended learning. In: In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. (Org.). Educação a Distância: o estado da arte. São Paulo: Person Education do Brasil, 2009.


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